segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Humana Amélia

Não é do amor que Amélia tem medo.
Sempre que esteve, estava.
Parada no nada.
Amélia sabia e sabia e sabia e odiava.
Odiava as rotulações.
Ouvia as maldades.
Sentia os olhares queimando sobre si.

Ahhhhh, que horrores sãos esses que pensam da Amélia?

Não era o amor que a afastava.
Não era o amor que faltava.
Não era nem mesmo o amor.

Era uma pobre coitada a doce Amélia...

Não é de amar que Amélia chora.
Não é o medo que a entristece.
Sempre que esteve, estava.
Parada no nada.
Parada no mundo surdo, mas não mudo.

Pobre Amélia, pobre Amélia!

Não é do amor que Amélia tem medo
É das línguas que ao invés de se entrelaçarem soltam veneno.
É do braços que rejeitam os abraços.
É dos sorrisos, impuros.

E por falar em impuros...
Que fizeram do amor, doce Amélia?

É disso que tem medo?
Disso que fala.
Disso que acusa.
Disso que mata.
Disso que não ama.
(AMAR? QUE É AMAR?)

Amélia, Amélia, Amélia...
Sempre um passo a frente do mundo
O mesmo mundo que anda para trás.

Ahhhhhhh, que horrores são esses?

Não é de amar que Amélia tem medo.
Não é do amor. Não é não.
É de gente.
Gente como a gente.

Pobre Amélia...  Doce demais para um universo atroz.


sábado, 12 de dezembro de 2015

Aprendiz


Estou aprendendo a escrever. As letras saem borradas nas linhas invisíveis e tortas pela ausência da régua costumeira. A minha tese sólida é só superfície da desenvoltura dos parágrafos que se intercalam, que falam, que gritam e brigam, se apedrejam e morrem de ir, felizes pelo riso. Ah! Que difícil é a escrita... Achar compreender os textos que saem das bocas, o enlace das mãos que se tocam, a música que transborda, o silêncio preenchido e a alma que se envaidece. Que difícil escrever e descrever a vida ao pé e à letra. Acrescentar as frases, moldar-se aos contextos, passar os corretivos, as vírgulas e os pontos no lugar que cremos ser o correto e não são. Que beleza invejável essas perguntas que não são respondidas, esses meios verborrágicos, esses acentos que dizem tanto e que não sei explicar. Não me expliquem. Que belo o orar sem saber pelo que, agradecer o nada e pedir o algo que falta na mais pura ignorância do não saber que já o possui. Ouve-me o silêncio e absorvo-me de somatórias. Que bonito o vácuo cheio dos momentos mudos, dos vídeos surdos, da fotos espontâneas. Que difícil é a escrita. As horas que passam depressa, o dia que engatinha, o momento que se eterniza, a luz que ilumina, o sol que nasce e inunda-nos de mar. Sim, porque o mar é doce. Dessas doçuras gostosas que nos causam enjoo logo depressa, da vida e da sede que é de não precisar entender (comer e beber) para saborear o ar, o vento que pacifica e de paz é carregado. Basta pouco da superfície para que a entrega, mesmo relativa, nos afunde na melodia de um momento que, perdoe, não sei explicar, ainda estou a aprender e, quando achar-me sabedora, terei que ser formatada... em algo devo ter falhado.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Edificai

Ao verso de enlace na rima desproporcional:
ÉS TU, O AVESSO
Criai a ti mesmo de novo e agora. 
Já não era sem tempo, sem nome, sem teto, sem esmola.
Quem eras? Quem és?
Salvai os enganos e os perdoai. 
Do mundo fundo, tudo imundo, o eco não se satisfaz.
Quebra-te.
Ampara-te.
Para-te.
Não dá mais.
Perdoai os enganos, os planos, as linhas, as retas, os anos.
Perdoai o contexto e aplicação.
Não aplica-te. Tece-te. Cria-te. Faz-se novo. Uniforme. 
Exato agora e não o sou-fui.
Quem eras? Quem és?
Cria-te e serás... Até o quando enganar-te mais uma vez.
E assim, perdoai os enganos, os quandos, os danos e a vida, criada mil vezes da mesma semente ilusória. Irreconhecível na unidade.
Cria-te.
E engana-se, pois tu és o mesmo das antigas criações.
Que era, que é.
Em tempo, buscai a ti.
E salva-te, antigo novo, agora.

sábado, 21 de novembro de 2015

Que é que faz?

Ô Deus, que é que faz?
Que é que faz se o mar é lama, lama d’água e incoerente
Que é que faz se o nadar é preciso, mas não se sabe fazê-lo
Ô Deus, que é que faz se a vida é tão assim
Tão assim que não se explica
Tão enigmática
Imprecisa
Ô Deus, que é que faz?
Que é que faz se o santo é forte
A fé cura até a morte
Mas a dor insiste renascer?
Que é que faz, meu Pai
Se ninguém sabe fazer
Se o conjunto todo é uma ida
Se a vida é toda bendita
E, ainda assim, os olhos não conseguem ver?
Que é que faz se não sabe nadar?
Que é que faz se não sabe dizer?
Que é que faz, Senhor
Se todo o dia que deveria de dia se revestir
Inunda-se de noite
E de noite não consegue dormir?
Mas, ô Deus
Que é que faz
Que é que faz se não sabe o que fazer?

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Sem previsão... Quem diria?

Quem diria que de nós o riso se fazia laço 
E a todo descompasso teríamos um ao outro?
Não desate os nós!
Quem diria...
Que a vista da porta fosse mais bonita que a da janela
Que nosso destino fosse toda essa primavera
E a vida fosse tão bonita assim?
Quem diria? Quem diria?

O Discurso finaliza, o ponto é que continua

O que faz de Fulana um alguém importante é o seu existir. Não existiria se não tivesse nascido. Bendito seja aquele que nasce! Amargo aquele que ignora a existência e morre na utopia do prazer que é achar saber o que não se sabe.
De todo modo, Fulana nasceu. Pouco importa se era uma tarde/noite/manhã, se chovia ou se não chovia, se era água que pingava na casa de Seu Antonio ou água que faltava na casa de Dona Madalena, existia um novo nascer. Todo o problema estava na história que não continua. Nas vidas que já não podem ser escritas, não mais.
Fulana morreu assim que nasceu, alguns dias depois de começar o tal ciclo. Morreu assim como morre esse discurso: sem razão. Perdoem esta pobre narradora, mas já não há mais o que contar sobre Fulana. A história é curta, a vida é de tantos, o foco é essencial, mas falho. O segredo está na balança: no modo como se enxerga e que se quer enxergar. 
Fulana morreu. 
Eis o ponto que não é final e as reticências que são imprevisíveis... 
Nasceu, antes de tudo.
E que o nascer é coisa bonita, vocês já sabem. 

sábado, 14 de novembro de 2015

Discurso continuativo de um ponto em reticências. Parte II

Não se enganem, leitores. A história a ser contada não é sobre Raquel, não tem como personagem principal a Madalena, não se trata de nenhum desenrolar de fatos que envolvam essas duas, nenhum ponto a mais nem a menos. Não agora. Nenhuma especificidade, a não ser as próprias observações da narradora que vos fala e que é observadora, ponto de afirmação (isso explica o breve relato anterior).
Insisto, somente, que não desprezem as duas mulheres. Raquel e Madalena estavam em algum lugar no mesmo momento em que histórias de tantas outras vidas estavam sendo escritas. Não as esqueci. A história é a mesma, o foco que é outro ou a vida que é de vários. O que se segue é um complexo espalhar de exclamações seguidas de várias interrogativas, e, observações feitas a partir do lado de cá da história já não podem ser escondidas. A narradora que vos fala é observadora, repito, observa e observa, e pensa, e sente, e vê, mas só enxerga com o coração. Entendam vocês, caros leitores: olhar nenhum, se não o do coração, conseguirá entender esse desenrolar de fatos. Nem esses, nem a própria vida. O segredo está na balança!

Fato número 1 – é tudo um ponto de confusão. 

Que o nascer é coisa bonita, todo mundo sabe. Um par de mãozinhas perdidas pelo ar, perninhas que insistem em balançar e os gritos, temíveis pelos pais, do choro da criança durante toda a madrugada e o restante do dia, e do outro dia, depois outro, e mais outro... Até que o ciclo começa a andar.
Que o nascer é coisa bonita, até aí todo mundo sabe e se não sabe, deveria saber. Mas, o que ninguém sabe mesmo, é como serão as coisas quando o ciclo, o tal ciclo, sai do zero e passa-se a viver. E que viver é coisa bonita...
Viu, vocês já sabem.

Fulana nasceu em uma tarde. Ou era noite, ou uma manhã... ???? (eu não sei, porque minha memória não é muito boa). O importante é que ela nasceu e era linda de se ver! Não era uma tarde/noite/manhã chuvosa, mas chovia, chovia feito a pingueira na casa do Seu Antonio que morava pra lá da cidade de onde Fulana respirou pela primeira vez e que não tem nada a ver com esse relato. O certo é que chovia, mas era no coração de Cicrana e Beltrano. Até hoje fico pensando que, se fosse chuva de água mesmo, tinha dado para encher vários baldes e abastecido a casa de Dona Emília que estava lá no Rio de Janeiro e passava por um perrengue danado... O caso, é que não era chuva de água, que Dona Emília nem sabia da existência de Fulana e que Cicrana e Beltrano estavam eram transbordando de amores.
Entendo que os dois, Cicrana e Beltrano, tinham tantos outros filhos para cuidar e que aquele podia ser mais um (mais uma criança com cara de joelho) que daria mais e mais despesas. Talvez, Cicrana e Beltrano estivessem em crise, e a paixão que inventei no parágrafo anterior quando os dois se depararam com as mãozinhas perdidas pelo ar e o primeiro grito de alivio de Fulana, tenha sido só mais uma ideia bonita. Não largo mão de nenhuma ideia bonita, nenhuma! Por mais impossível que seja, ideias bonitas costumam ser conservadas pelo amor e vivenciadas na sua imensa grandeza. 
E, por isso, são só ideias.

[...]

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Discurso continuativo de um ponto em reticências. Parte I

- Veja só, minha senhora! Continuo arrepiada! Não há mal que ainda nessa vida não seja condenado, não há. Justiça há de ser feita, minha senhora. Veja, veja! - e apontava para os braços e reproduzia caretas e enchia-se de indignação - Ainda estou arrepiada!

A ouvinte parecia se compadecer com os desamores da falante. A elas, daremos os nomes de Raquel e Madalena. Não se faz necessário nenhum outro detalhe, senão o próprio nome e o entendimento de que: Madalena carregava suas cruzes enquanto Raquel só observava e, vez ou outra, exclamava:

- Não duvido mais de nada, minha senhora! De nada! Veja só, estou me tremendo até agora.

Madalena era humana, coisa que parece óbvia, mas nem tanto. De tudo um pouco fazia, para agradar, senão, de tudo um pouco a todos um pouco. Madalena chorava rios de lágrimas, coisa que parece óbvia, mas nem tanto. Já tinha sido feita de sangue, de feridas impossíveis, incuráveis, podres no ódio e na dor. E, apesar dos inúmeros pesares... Madalena era, senão, o amor em pessoa. O amor em sua forma mais ridícula, desacreditado, é claro. 

Raquel era humana, mais espécie que humanização. Era uma boa pessoa, não se pode negar, não negaria. Todavia, Raquel possuía um quê de não sei o quê que insistia em permanecer na superfície das coisas. Sempre à margem de um clichê, de um conceito banal, de uma piada sem graça, de uma curiosidade medíocre e merecida de desprezo acompanhada de nada mais que uma inveja aguda, um elevado grau de interesse pela vida dos outros, mas que não passava disso. Raquel era humana. Pobre de espírito, é verdade, 
mas humana. 

[...]

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Em pessoa e açúcar

que sorriso doce tem essa mulher
menina
grande, grande, grande e mãe
que coração amoroso, olhar carinhoso
e abraço aconchegante
que sorriso doce tem essa mulher
que não larga da menina
criança
e de ser feliz não arreda o pé
não abre a mão
não fecha o sorriso
e que sorriso... doce!


sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Um brinde ao copo com a gota d'água

O culpado não seria o tempo. Não seria a casa, nem a rua, nem a cama desarrumada, a louça mal lavada, o jantar para ser feito. Não seria a vizinhança, a culpada. Não seria a tia, o avô, a amiga, o amigo. Não seria a mulher, não seria o filho, não seria o pai. Não seria a cidade que é pequena, a vida que é de todos, a vergonha que é alheia. Não seria o exemplo, não seria o ícone, não seria nada a não ser o alvo e a gota d'água. E o copo, o cálice, o sangue, o medo, o terror. Não seria o tempo, o culpado, mas não seria, senão, o próprio tempo a receber a culpa: do leite derramado, da tempestade no copo de água ou de sangue que transbordaria um nada, que inundaria vidas e mudaria rotas e transformaria vários tudos. 
O culpado  não seria o tempo por conceder tempo para ver. Não seria culpado por ouvir, não seria culpado por falar. Seria por viver? Não, não... Não seria culpa do tempo, a não ser que fosse o tempo jogado fora por não saber o que fazer com o copo que transbordava vários nadas e derramava a tempestade. E, sendo assim, o culpado seria você.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Seria, pois, a porta.

Emperrada, diga-se de passagem.
Passagem estreita, vale ressaltar.
Seria, pois, a porta. Madeira firme e antiga, valiosa, vaidosa, ruidosa, alta.
Seria a porta, a grande causadora do mal entendido? Triste sonhadora de sacadas, de imagens (belas), de ilusões que se passavam na janela estreita da casa. De tudo, a porta emperrada deixava passar. Não é possível que não fizesse exigências, tudo que é porta nesse mundo costuma fazer um tanto vário de perguntas antes de deixar quem quer se seja se aproximar. Seria, pois, a porta?
Limitada aos olhos crus, vestidos de poeira da calçada, cinzentos. NUS. A porta recebia todo tipo de visita. E todo o tipo de visita entrava, acomodavam-se no sofá. CAFÉ, LEITE, CHÁ, UM SUQUINHO, REFRESCO, NÃO É POSSÍVEL. NADA? Querida mãe, diz sempre, quem oferece não quer dá. Quero não mesmo... Seria, pois, a porta? Ou a janela, quem sabe não seria?
Seria quem a causadora ou causador
do grande
e mal entendido?
Seria, pois, a porta?

Não é possível. 

Embalar

A PORTA SE ABRE:
dois corações 
permissão de morada
É tudo extensão
do acaso
do riso
do abrigo 
da casa 
do amigo
da alma
da janela
dos laços
e embalos
da vida

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Comodismo

Onde está você que não está aqui
Que não aparece
Que não dá notícias
Onde está você que sumiu
Que fugiu
E fingiu não ter visto
Onde está você que não responde
Que nem sabe meu nome
E não está aqui ao lado
Onde está você que não aparece
Não escuta minhas preces
Onde está?
Onde está você que há de ser
Que não é possível que demore tanto assim
E que se esconde e se esconde e se esconde
Só para eu não ver
Onde está você que não está aqui
Que não sabe de mim
Nem eu de você
Onde está você que eu não vejo
Que está por aí
Que anda não sei por onde
Que se chama não sei quem
E que nem existe
Será?

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Doce, chovia

De alma lavada. Roupas molhadas, cabelos molhados, corpo com frio. Chovia naquele dia, no dia que choveu. Era um verão com toques de inverno. O calor emanava de seus abraços e risos que, não sei porque, gargalhavam. A música tocava ao fundo, toque profundo, e chegava na alma serena, ardente, leve, leve, leve... 
Chovia naquele dia, dentro e fora de casa, da tal casa. Dessa vez, deixou-se molhar.
- CHOVE!, gritava. E chovia. Como nunca se viu antes. 
Foi para o meio da rua que se dirigiu, não importava o resfriado que viria, as reclamações da mãe ao chegar em casa, os olhares curiosos de alguém que via a cena. 
- CHOVE!
E a música tocava ao fundo e tocava na alma. Serena! Doce! Pura!
Os braços se abriam, como que para receber as bençãos que vinham do céu - CHUVA! - e giravam.
Rodopiava alegre, cantante. E ria, como ria... 
De alma lavada. No meio da chuva, aos rodopios, docemente transbordava.
E ria... como ria...

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Variedades

vários pontos
tantos pontos
muitas e tantas exclamações
vários pontos
tantos pontos
tantos pontos
vários
muitas e muitas exclamações
vários pontos
vejo tantos
e tantas
e tantas
mas tantas são as pontuações
vários pontos
vários
vários nadas
nadas em variedades
vários pontos
dois pontos
só ponto
só nadas
vários
vejo pontos
são vários
tudo


segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Há.

Assim que o silêncio chegou no meio, o meio, pouco silenciou. Quando o silêncio se fazia tormento e atormentava, o meio gritava em um silêncio tão angustiante que silêncio algum podia deixar de ouvir... mas deixava. E atormentava não sabia bem o porquê. Ou sabia. Ou entendia. Entendia. Não compreendia. Queria. Mas não podia... Deveria ser mais simples, não? Tão mais simples se fosse menos complicado. O caso é que é o caso. Esse caso.
Assim que a caneta escorrega devagar pelo papel e retorna em um rabisco profundo: Não era bem isso que queria ter escrito. Não era bem isso que queria ter dito. Ouvi, mas não era bem isso que queria ter ouvido. Não era bem isso o que há, porque existe e está preciso de entendimento. Mas alguém aí entende?
Não, não era bem isso...
O alarido que invade, de maneira tão silenciosa, está coberto de desejo. Desejo de que, Deus? De um sossego desavisado que invada, aturdido, tão misterioso e decidido, as portas do ser. Ser humano. Sossegue. De uma paz infindável, em um silêncio tão gritante, mas tão gostoso de ouvir. 
Hei de ouvir?
Ouvir quando?
Agora?
Como?
Hei de ser? Que há? Que há?
Que há???????? 

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

E se foi...

Um caminhão azul está parado em frente ao jardim.
A menina que passa, passa correndo pela calçada.
Um carro percorre a avenida.
E o cachorro late.

Nada tem a ver

O caminhão continua onde está.
A menina que passava, passou.
O carro não voltou.
O cachorro ainda late.

O caminhão continua onde está
Cor azul.

Nada tem a ver

Tudo passa
Passado
Rápido
Depressa
E demais

Prazer por ir embora
Nada tem a ver
Tchau

Tudo que vai
Adeus
Volte, se puder
Se feliz fizer, claro

Insistência infeliz
Permanecer é sempre por um triz
Se fica, não agradeço
Mas reparo

Tanta coisa se esvai
E vai...

[Um senhor que passa
Passou rente ao caminhão
Entrou
Entrou e passou
Passou, mas não parou
Não parou e levou
Adeus, caminhão]

Nada tem a ver.

Do tempo em que se está longe... mas retorna

Do muito que tenho para contar sobre o tempo, a sua imprecisão para com meus assuntos me incomoda um pouco. Por algum acaso, no exato momento de ser exato, seu tempo não se faz. Dia desses, foi com a sua urgência de sempre que procurou dar-me explicações pouco convincentes para seus contratempos. Que não o culpasse por suas extravagâncias, que passava ligeiro, mas que me dava todo o tempo que seu tempo tem, eu é que não reparava. Que tentasse entender, cada coisa tem seu tempo... De nada vale os prazos que lhe dou para resolver meus desvarios, se eu não contribuía em nada para que eles fossem solucionados. Só faltou gritar comigo, que deixava tudo em cima dele, que sobrava tudo para ele resolver, que isso ou aquilo. E que já estou é bastante grandinha para ver o tempo passar. Mandou-me arrumar o que fazer, que todas essas minhas reclamações o contrariava, o impedia. E mais!!!!! deixava o recado: tome cuidado para não ser você mesma seu próprio estorvo.
Depois disso, eu sei que liguei o modo "indignada" e sorri amarelo. Calei! 
O tempo tinha lá suas razões e estava certo, dou-lhe o braço a torcer. A vista da janela podia ser até interessante, mas não era correto ser somente telespectadora de suas paisagens. Por um momento esqueci-me da história que construí e que, além de narrar, era personagem. Encontrei uns contratempos que, diferentes do tempo, não tinham urgência nenhuma em passar. Tomei logo uma xícara de consciência. Fiz proveito do tempo dado e desliguei-me de minhas exatidões para com o tempo, só não podia perder as rédeas. E assim, prossegui, aproveitadora dos bons ventos, rodopiando rumo ao tempo certo e precioso... de suas imprecisões já não quis saber: tudo ao seu tempo (eu só precisava dar uns empurrõezinhos).   

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Que tanta coisa e tanta coisa seria...

Ou que tudo fosse enfim resolvido
Ou menos complicado
Que a ânsia por dias melhores
Não adormecesse na primeira dificuldade
Nem na milésima que fosse
Que o sonho que sonhara
Não lhe atormentasse tanto:
Cada coisa ao seu tempo, é preciso saber
Que o tempo que traz as coisas
Não demorasse tanto
Nem que o desejo de recebê-las
Lhe permitisse a inércia
Que o querer fosse sempre o mais forte
A razão sempre consoladora
E o coração não se deixasse amargurar
Ou que a vida fosse um pouco mais doce
Ou que tivesse o seu azedo, tudo bem
Que o mundo não inundasse suas veias de atrocidades
Que a paz reinasse em cada canto de seu olhar
Que o fruto que brota da terra fosse mais saudável
Que a flor que desabrocha, ainda que na guerra
Fosse reconhecida
Ou as pessoas fossem mais gentis
Ou mais fáceis de lidar
Que o quebra-cabeça não fosse tão difícil
Os sentimentos tão enigmáticos
Que tanta coisa
Mas que ainda fosse coisa a se falar
Que fosse tanto amor
E tanto o amor seria
Em todas as coisas
Ou desconheceria toda a razão
Ou não amaria...
E pior coisa não existe.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Geração do Café com Leite

- Garçom, duas xícaras de café com leite, faça o favor!
Aqui nesta mesa, lhe confesso o café que me foi negado em tempos antigos, o leite que me foi derramado e frio, azedou. Quando pequena, junto aos mais velhos, o que me sobrava era a porcaria do café com leite, a mistura do contento.  “- É isso o que tens, contente-se”. Infeliz idade do pega-pega, do esconde-esconde, da criação do chicote (queimado só para mim). Infeliz dias de café com leite, quando todos na sala se embriagavam com o azedume da bebida quente e amarga, do leite entupido de nata. Infeliz idade de quando, para mim, só servia-me a mistura.
Aqui nesta mesa, lhe confesso as dores do crescimento, minha crise adolescente, meus tormentos e a estúpida mistura que nunca me deixou....
- Garçom! Mais uma dose, por favor.
Atormentada pelo contentamento durante toda uma vida. Nada o bastante para um café puro e forte, fraca demais para um leite azedo e frio. Café com leite na vida! No amor: o que me restou, o que sobrou, as migalhas, a frieza, o tormento da não correspondência. PORCARIA DE MISTURA! Única coisa que queria era um café quente, ao lado do meu amor em dias de frio. Porcaria de leite, que derramado, esfriou e me esqueceu.
- Garçom!
Não bastante a bebida aterrorizante que me era oferecida em todos os momentos de minha vida, eu era e sou, quem sabe serei: o próprio café com leite.  Nem doce, nem amarga, nem quente, nem fria, mistura equilibrada composta por extremos. Estúpido café com leite que me afoga e impede de sofrer um pouco mais. Sofrer um pouco mais...
- Garçom? Não, a bebida ainda não acabou... Pode sentar-se um pouco? Quero lhe confessar...
Ingratidão! O café com leite me perdoe, ingrata que fui por toda uma vida. Quis trocar quem sempre me protegeu... Aqui nesta mesa, te digo: o café nunca me escolheu, o leite nunca me agradou. Separados, nada são... Me dão horror, posso ver.
-Garçom? Não vá embora, não agora, preciso contar.
Há pouco tempo eu experimentei a frieza que me congelou, o calor que me queimou... a dor por ter deixado o meu odiado café com leite. Entenda, pelo amor de Deus, não é confuso nem complicado. É um mero café com leite em desagrado, e eu, a menina que hoje cobiça a mistura. A vida é dura, garçom amigo. Cruel. Pobre, mendigo um pouco mais de paz. A vida é dura, garçom! E eu sou estranha, sei... mas que culpa tenho de odiar ser o café com leite, mas querer a mistura para mim?
Para tudo nessa vida poderíamos dar um jeito, metade café e metade leite, escolher entre os dois não dá certo: preciso do amargo para conhecer o doce, do frio para conhecer o quente, da mistura para odiar as separações, a desgraçada geração solitária que nego até a morte.
Não me contento com a solidão, hoje entendo o café com leite e peço perdão...
- Garçom? A mistura acabou...
Sei que já passou do horário, já estou-me indo. Prometa-me somente, que para tudo na vida daremos um jeito, o nosso, mesmo que não seja bem feito. Para tudo, garçom... o nosso jeito.

Ao café que me é oferecido, ao leite, maldito. À mistura que me embriago, nesta mesa, um brinde!
Ao café com leite, minha (in)gratidão!

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Ninguém entende

Podia ser
Podia não
Não ser, é que não podia
Depende
Depende do que podia
Na verdade
Tudo podia
Mas não muito
Não exatamente tudo
Ou tudo

Está certo, podia
Mas não era conveniente
Dependendo do "podia"
Não, não podia não

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Ao amor que é teu

Em tuas mãos coloco o teu amor
Guarda com carinho, meu querido
Ele é teu
O meu amor está em mim
Guardo com todo afinco
E rego todos os dias
Ele sou eu

Guarda com carinho, meu querido
Esse amor que é só teu
Guarda bonitinho
Todo engomadinho
Passado a ferro quente
E te dado de presente
Por nosso amor que nasceu

Fique sabendo que o teu amor é teu
Meu amor é meu
E juntos, eles são nossos
Saiba mais, benzinho
Que meu amor lhe tem muito carinho
Que está todo apressadinho
Só esperando uma brecha do seu

Teu amor é teu
Meu amor, sou eu
Sou eu quem te dá o meu
O meu amor de paz

Teu amor é meu
Meu amor, só eu
Só eu é quem pode te dar mais

Teu amor é meu
Meu amor é teu
Teu amor é teu
Meu amor, sou eu
Só eu 
Só eu e você
(e o amor que é nosso)


sábado, 18 de julho de 2015

Atemporal

Do tempo.
Amigos do tempo
Amores do tempo
Coisas do tempo
Em cada tempo... 
São ciclos.
Hora ou outra o tempo volta e acontece de se reencontrar.
Reencontro da vida 
do acaso
do tempo, mas não temporário
Sem domínio
Sem tempo
do tempo.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Previsão do tempo

A luz solar atingiu a janela predial logo cedo. Abrir os olhos após uma longa noite de sonho foi uma tarefa árdua. O sol queimava as bochechas ao tempo que deixava seu recado: mais um dia. Aconcheguei vida no abraço de um céu azul, o travesseiro era incômodo demais. Os jornais espalhavam a notícia: O tempo é firme nessa região de país. Faz sol durante toda a noite, nenhum indício de chuva para a tempestade que se aproxima. 
Estou certa de que os ventos sopram a favor.
Do lado de cá da janela predial os dias se recusam a dormir tão depressa, prolongam seus horários e anunciam as noites insones. Do lado de lá, o sol já nasce poente e ridiculariza da lógica não observada. 
A luz transpassa a cortina embebida do amargor cinzento dos dias em que não se fabricava sol. Os pássaros anunciam algo que não consigo traduzir... Novos tempos, há de ser. A vida espalha sorrisos em nuvens carregadas e, mais uma vez o jornal avisa: O tempo é firme nessa região do país. É certo que precisará aprender a nadar, esteja preparado: não chove água, mas transborda sentimentos. Um nado em falso e poderá se afogar.


segunda-feira, 13 de julho de 2015

Tragicômico, óbvio

Comediante e ande é ante, anti comédia
Síndrome de tragédia  e ante, anteposição
Caminha sobre o ar aquilo que não está sob o chão
Flutua risos e tantas inconstâncias catastróficas
Comédia adiante
Ande, farsante

Contar-lhe-ei o tragicômico:
Desde que homem nasceu, nasceu e enfim cresceu. Cresceu e morre todo dia - seja noite, seja dia - , é preciso dizer que morre e permanece, mal tarda e anoitece, a lua sobe e o sol desce e o homem, permito-me ressaltar: cai em preces.  E desde que o homem cresce e todo o dia falece, muda e avessa, e ri, mas desconcerta. É certo dizer que a vida é uma tragicomédia e o teatro se faz em palco cotidiano: riram gregos, sofreram troianos. Ou é o oposto do que está dito? Ou não o digo? O que está certo, é que desde o homem nasceu vive em desgraça, ri alto em praças, grita loucuras e poemiza-se em amor. Desde que nasceu, todo homem é um pouco Romeu, toda mulher é Julieta e nenhum dos dois sobrevive ao final, porque, desde que nasceu, o homem enfim cresceu e traça sua história: histórias loucas, melancólicas, amor versos de ódio, sangue e bandeira branca, bigodes de Hitler, chicotes em costas de negros, romances em palcos e beijos apaixonados. Mas desde que nasceu, está certo que o homem cresceu e não importa o que faça, se chore ou elabore graça: o homem morre todo dia, seja noite, seja dia, de infarto ou anemia, até mesmo poesia. O que está certo é que morre, não tarda e anoitece. 
Tragicômico, não?

(para meu Amigo Anônimo - desafio da palavra)

domingo, 12 de julho de 2015

Ponto continuativo. Em frente...

Tolice alguma pensar no passado já não tão distante, virou-se do avesso e teve acesso ao ex passageiro. Retornou com afinco, emergiu de sabe Deus onde. Fugiu das sombras escuras e pretéritas, recorreu à luz do presente. Tolice não pensar em confusão. O regresso vem em dose dupla, os sentidos se aguçam e emanar sossego é questão urgente! Dissolve a paz, caleja o amor. É impreciso decifrar. 
Retorna o ex passageiro, zombeteiro, não há de fazer morada. Ainda que teime confundir, já ouve conhecimento de si. O antídoto está mais forte, não mais vulnerável como de princípio. 

[Criou-se muro em frente ao jardim.
Rocha impermeável]

O regresso é fiel à solução - compromisso de honra! Já passa da hora de caminhar, à frente está o futuro e as questões estão resolvidas logo atrás. Autoriza a partida, não há freio. O ex passageiro se desloca aos fundos, longe se vê - turvo - seu "ir embora".

[Adeus, passageiro não querido]

Tudo está acertado, decidido, terminado. Turbulência já passou.
O muro está firme e forte, compreende melhor os eventos e suspira com leveza.
Marchar para frente!

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Eu reviro, tu revira, nós reviramos os olhos e o mundo acaba perdido.

revirou os olhos como gesto de reprovação. Não bastasse todos os desamores que vinham lhe sendo ditos, era obrigada a permanecer calada. Calada ficava. Oras! Desde sempre, aprendeu que só se deve abrir a boca, antes de tudo, para falar algo que seja digno da inteligência que nos é atribuída. Se ouvia algo que não lhe agradava, ficava aos nervos! Precisava falar, precisava retrucar, precisava responder à altura! Mas sempre foi repreendida: Você é nova para entender, fique quieta. Conversa de adultos. Não, não é assim. Não foi isso que lhe ensinei. Pode? Não, não pode! Ouça primeiro...  Pavores!!!!!! Acabou foi abrindo mão de suas falas, percebeu que, mesmo tendo algo inteligente a falar, nem sempre seria ouvida. Achava era um horror isso de só ouvir o que bem quer, isso de só falar o que for conveniente, aquilo de ser sempre os outros e nunca ela mesma. Mania desgraçada de inventar um novo eu, sendo que ela mesma era só ela. Pensava isso e aquilo e queria isso e aquilo, não concordava nada com aquilo e isso, mas não repreendia, compreendia, respeitava. Cada qual com sua opinião. Cada um a seu modo. Todo mundo aqui é grandinho. 
só não podia deixar de opinar sobre os assuntos, se falar era pecado e não falar era sinônimo de concordância: revirava então seus olhinhos. À toda mentirinha ilusória da mídia: revirava os olhinhos. À toda conversinha sem pé nem cabeça: revirava os olhinhos. À cada nova fofoca da vida de Fulana, do tal escândalo de Ciclano, da violência sem limites de Beltrano: revirava os olhinhos. À cada gesto de impaciência, intolerância, hipocrisia: revirava os olhinhos. Está certo que não era nenhum pouco imune à defeitos, os tinha (alguns em demasia), mas os desprezava. E assim tentava melhorar. 
acontece que deixou de opinar. É preciso dizer que o fato de só revirar os olhinhos tornou-a um ser não atuante, não presente. O fato de só revirar os olhinhos, acabou deixando-a sem voz. O fato de só revirar os olhinhos, acabou fazendo com que fosse, somente, mais uma. Mais uma que não faz nada (além de revirar os olhos, é claro). Esqueceu-se da balança, do equilíbrio fundamental, dos aprendizados que "desde sempre, aprendeu que...". Acabou que deixou de revirar seus olhinhos, o mundo tornou-se um pequeno grupo de pessoas e coisas que giravam ao seu contorno e só. Pouco importava se o mendigo lá do outro lado do país fosse morto e violentado por um grupo de jovens, se não sei quem estivesse passando fome, se a saúde estivesse precária, se a educação podia melhorar, se, se, se, se... Tanto "se"! Foi então que seu revirar de olhos deixou de fazer sentido. Se o problema não era seu, não tinha nada a ver. Falava o que fosse conveniente. Se isso era certo, se aquilo não é da minha conta, se eu não posso fazer nada, se... Acomodou-se. É preciso dizer que, sempre que seus amigos a alertavam da sua acomodação, da sua ausência crítica, do seu: "tô nem aí", ela ficava chateada, comunicava que estava cansada, que problema todo mundo tem, que é assim mesmo e depois piora, que a gente tem que se acostumar, calar e consentir, que falar não adiantava mesmo e não tinha mais nada para fazer... então: revirava os olhinhos...

terça-feira, 7 de julho de 2015

Amor, bendito amor...

Bendito seja esse amor que invade, faz do corpo sua morada, alaga toda a casa, acha pouco  e quer transbordar. Tanto amor assim não é imprudência, não me enche de exigências. Quer, somente e tanto, que não o deixe desperdiçar. Explique-me como faz para tão grande amor permanecer, relato do meu e em você, e você "visse" e versa. Explique-me o segredo de amar tanto e assim, com tamanha intensidade uma ideia bonita que se deixa habitar. Explique-me e admita, admita que a resposta complica e não é fácil de agradar. 
Bendito seja o amor que existe, faz poesia em verso triste e vê beleza em cada luar. Explique-me toda essa loucura: amor nenhum é cura, mas é fácil de matar. Mata-me cem vezes e em todas as cem hei de amar!
Bendito seja o amor que cria asas e permanece, sabe voar em céu terreno, nega todo o inferno horrendo que o faça acabar. Tal amor está firme e forte, sólido e resistente, mas você aparece... começa então o desabrochar. Veja só que amor displicente, totalmente desobediente, acabou de derreter. E, mesmo derretido, permanece e só evapora ao amanhecer. 
"Onde está o meu amor? Erá sólido e líquido virou, virou gás e flutuou. Desistiu tão fácil assim?"
Então o amor troveja, grita um raio ao pé da ladeira e gotas de chuva começam a cair. 
Bendito seja o amor que inunda!
Bendito seja quem o deixa entrar e transbordar!
Amor, você voltou...! Tão bendito, meu amor... 
Há muito espero chover para poder dançar, por todos os lados vem chuva.
Vem, amor! Inunda... Faz da minha casa o seu lar e de mim o seu lugar. 
Bendito seja, amor!

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Passeio sem pontos

Tudo que passa pequenininho
Passa lento e devagarzinho
Não espera ser o que não há de.

Tudo aquilo que passa
Passa e um dia vem
Retorna em forma de brasa
E está longe de assumir o desdém

Cria-se laço
Afoga-se por acaso
Ressuscita e é só

Vem em forma de brasa
Tudo aquilo que passa
Mas que um dia permaneceu

Não é gira-gira
É vai e vem que lembra e retorna
Cansa e recua

Tudo que é pequenininho
Passa em desalinho
Ao acaso
Por mero des-agrado

Tudo que é
É verbo inconstante
Estar e não estar
O português não abrange
Há muito o que saber

E tudo que é pequeno
Passa
Leve e com graça
Suaviza nos acordes da manhã

Tudo que é pequeno
É calmante
Simples e aconchegante
Todavia
Hoje é estar e amanhã não estará

Tudo que é pequeno, é grande
Fica além do real
´
É pequeno, somente pela inconstância do estar

Tudo que é pequeno
Passa
Primeiro, ao meus olhos
Sem nenhuma graça
Em segundos, eu que passo
e re-conheço

Me viro pelo avesso e mudo o canal para ser estar

Tudo que é pequeno
Torna-se grande
Aos olhos, almas gigantes
E o coração, em um leve acelerar...




sábado, 4 de julho de 2015

todo ponto é um barulho

Esse barulho é inconsequente, confesso que não me é diferente daqueles tantos silêncios que já ouvi. Espere ao menos que consiga desembaralhar as palavras, colocá-las na ordem correta,  pegar o dicionário  e tentar decifrar esses inúmeros acontecimentos que estão amontoados por aqui, aqueles que ainda estão por vir ou simplesmente se deixam levar... O barulho é barulhento, não me é prazeroso e pouco tenta agradar. Na verdade nem agrada, quer mais é atenção, barulho mais sem noção... por aqui não quero que se deixe habitar. Ainda que dê uma pausa com esse barulho todo, o silêncio que se faz não me é convincente, muito menos conveniente, só mais um barulho a “barulhar”. Você acha que só se faz barulho aos gritos, juro que não acredito... Como se deixa enganar? Espere ao menos eu pegar o dicionário, procurar por um sinônimo no real vocabulário, encontrar alguma explicação. Toda essa conversa não é crise de coração ou uma rima a mais com a palavra anterior. Você nunca entenderia, jamais conseguiria compreender o que nunca se explicou. Não se explica o que não se sabe, o que está confuso e é indiferente, não é bicho, nem é gente, é sentimento e deve estar carente. O dicionário vem surpreendentemente e diz que de algo necessita, mas não me venha com coisas restritas, o mundo é mais do que isso aqui. As coisas estão amontoadas e todos gritam, o silêncio que se faz é ensurdecedor. Dê um stop, uma pausa breve, um momento pra descansar. Espere eu pegar o dicionário, me dê mais um que horário, não me deixarei levar. Existe coisa nesse silêncio todo, grita menos um pouco, mas ainda assim dá para ouvir. Espere que eu entenda o que acontece, se faz necessário algumas preces e confesso: dicionário algum traduz isso aqui.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Um história de reticências...

O tempo passou de repente, foi passando diferente, Passarinho me contou...
Passou que nem viu, que nem vi e você nem notou...
É tudo um pouquinho confuso, repare que não te acuso, mas me responda, faça o favor:
- O tempo tem andado injusto ou você que nem andou?
- É esse tempo que anda aflito ou você, meu amigo, que muito mudou?
Sua resposta eu nunca tive, mas Passarinho me disse que o tempo te perdeu.
Eu disse: 
- Passarinho, me recuso a acreditar, como que o tempo perde quem nunca se deixou achar?
E o pássaro ficou confuso, não sabia o que responder, quis escrever uma poesia para conseguir entender, mas esqueceu-se que pássaro não sabe ler nem escrever.
Até Passarinho, que pula de ninho em ninho quis ter uma razão.
Eu também queria, mas não podia entender nada que não fosse de coração.
O Pássaro perguntou o que fazia, eu disse que não sabia, mas que podia ajudar. Podíamos cantar juntos, colorindo nosso pequeno mundo e vendo o tempo passar...

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Pontuei amor em uma ideia bonita

Você é bonito em meus pensamentos
Parece bonito fora deles 
E espero que seja ainda mais em seu coração

Sua ideia de ser belo é bonita, mas não mais que a minha ideia bonita que é bonita... mas que não passa disso. Não passa, porque é só uma ideia. Idealizei, eu sei. Você parece convite deixado em aberto para ser feliz com uma ideia bonita, que não sou eu, mas que é minha ideia. Costumo ser feliz com ideias bonitas, assim como quando invado o transporte, escolho meu assento e espero meu destino, ao tempo em que preparo a trilha sonora para o trajeto dos meus sonhos e as cenas que seguem a cada ideia bonita que faço quando o tenho por perto, digo, em meu coração. Entendo que não passa de uma ideia simples, feliz e vaga, mas ainda assim é uma ideia... 

Sua ideia de ser belo é bonita. No entanto, 
a minha é ainda mais. (é só uma ideia)

sábado, 13 de junho de 2015

Arco de cor, ponto exclamação.

Estou colorindo um painel preto e branco que continua preto e branco, mas colorido. A moldura do quadro é subjetiva e todo o sentimentalismo está implícito em cores negras que na opinião de alguns olhares externos, são só negras. Misturo ao branco e faço um arco, e sua íris controla a entrada de luz, reflexão em cores. O prego que sustenta a moldura, não se vê. Não se vê, porque é cor e está negro. A cor que aparece no painel é colorida aos meus olhos, eu vejo cor e você enxerga somente o branco e preto, o óbvio, o retrato, o que se quer alcançar - nada de profundezas ocultas!, grita - mal sabe que tudo é perto da obviedade, dentro dos limites do subjetivo. É branco e preto e preto e branco, é luz na íris e sua visão que vai longe. Até onde se enxerga é até onde se quer enxergar. Espero preto e branco e me aparece mais do que espero, porque preto e branco é o assombro de cores que se mostram e se escondem quando cansadas. 
Espero o óbvio e renasço do subjetivo, sou cor, sou branco, sou preto e vivo.

terça-feira, 9 de junho de 2015

Olhar sem ponto final

Olha-me devagar
Devagarzinho
Assim, como quem quer algo
Quer e não sabe
Olha-me devagarzinho 
De vagar pelos meus olhos 
E fixando-me aos seus 
Olha-me devagar
De modo que me olhe
Devagarzinho...
E muito mais do que aparento (ou mereço)
Olha-me devagar
Devagarzinho
Tem algo a mais 
Olha-me
Olha-me cativo 
E cativante eu serei 
Olha-me devagar
Devagarzinho
Sem pressa
Sem conversa 
Olha-me 
Não desvende (nem tente!)
Não conclua 
Olha! 
Me olha! 
Olha a mim! 
Sem pressa
Devagarzinho... 
Olha-me. 
E tenha paciência

sábado, 6 de junho de 2015

Fala sem ponto

Falem dos amores arredios, dos corações frios, gélidos de tanto amar. Falem das moças alvoroçadas que correm pelas calçadas quando veem um moço bonito chegar. Falem da vizinha que se mudou segunda, que casou na terça e separou na quarta, só por causa do seu bem estar. Falem das crianças que brincam nas ruas, dos rapazes que desejam que as meninas sejam suas, dos relógios e relógios que batem sem parar. Falem de Maria, de Joana, de José, Fulano e Cicrana, falem por falar. Falem que eu nem ligo, de todo mal eu abdico, podem continuar a falar...

Três pontos de lamentação

Há um tempo e um momento para cada coisa, para cada caso.
Cada dia é dia de ser novo, mas ser quem?
Há um dia para cada tormento
E um lamento a cada passo, para todo descompasso.
Há dias, há tempos tem sido assim:
Não há quem resista, há quem complica e não entenda.
Há quem lamenta e desconcentra.
Há quem espera... e só.

Depois do ponto de ônibus

Eu vejo as casas passando
E o Sol clamando por atenção
Vejo as nuvens se dissipando no céu
Eu vejo...

Em pequenos laços de memória a vida se esvai
Eu vejo o dia virando noite
E a noite cada vez mais brilhante
De longe eu vejo a Lua
Eu vejo...

Tanto que vejo
Tanto que penso, são tantas as coisas que sinto
Enquanto tudo se vai, eu fico
Mesmo sendo eu o passageiro
Quem passa ligeiro não sou eu

Eu vejo tudo por uma janela
Por uma fresta de vida
Eu sinto o vento nos cabelos
E mais adiante eu vejo...

Vejo esse meu destino que não tarda a chegar
Passa ligeiro
E eu, passageiro
Um dia chego lá!

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Passa a vírgula e tem mais problema.

Dos diversos problemas que o Brasil enfrenta, não seria o conjunto urbano e social um fator exclusivo para que não pudesse ser encaixado na categoria: INFELICIDADE. Sim, tamanha deve ser a infelicidade daquele que vive aqui, inclusive eu, exposto a todo tipo de fúria enigmática que se traduz em soluções desastrosas do avanço social e, consequentemente problemático. Vejamos os fatos: falta de planejamento base para promoção do controle desordenado das cidades, que promove os grandes centros como áreas inacessíveis devido ao seu encarecimento (para alegria dos pobres, olha só que beleza!), contribuindo assim, para que se busque por moradias mais distantes e mais acessíveis (sim, estou me referindo ao custo financeiro, até porque ‘não vejo’ incomodo algum em atravessar o Rio São Francisco se, somente se, do lado oposto tiver uma moradia FREE. O que acham?).
Não bastasse a dificuldade para com o acesso às áreas de maiores produções e qualidades, uma numerosa parte dos trabalhadores possuem salários baixíssimos e para sua formosa infelicidade: o transporte público é um desastre, precário, tais zonas segregadas não contam com o saneamento básico e o asfalto e, para reforçar, os índices de violência estão lá no topo.
Falando em topo, que acham das favelas? Conjunto 'infeliz' da parte esquecida e desestruturada das cidades do meu Brasil. Ô beleza! Desemprego, falta de planejamento urbano, concentração de renda, invasão de áreas inapropriadas, desfavoráveis à habitação, a exemplo dos morros.
O Brasil brasileiro está transbordando de problemas, não é verdade? Por falar em transbordar, toda essa conversa desestruturada também se relaciona à agressão ao meio ambiente, um de seus prodígios são as enchentes que podem sim ocorrer tendo ou não a interferência humana, mas que na maioria dos casos, por falta de planejamentos urbanísticos, loteamentos, poluição, impermeabilização do solo, a água não encontra saída e simplesmente, transborda. Transborda para dentro de nossas casas, inundando nossas salas e queimando aquela televisão que só tinha sido paga a primeira parcela, apodrecendo a madeira do sofá (o sofá que se costumava sentar todas as noites para assistir à novela das 8 na televisão que só tinha uma parcela paga e que queimou numa enchente que adentrou a humilde residência).
Agora, peço perdão, mas já estou indo. Se for mesmo para listar todas as infelicidades desses, inclusive eu, brasileirinhos, eu passaria a madrugada, o ano ou sabe Deus o tempo para falar tudo. E assim, quando já estivesse prestes a terminar, surgiria mais algum só pra enfatizar que problema todo mundo tem, inclusive nós, brasileirinhos. Não é verdade? 


quinta-feira, 4 de junho de 2015

Ponto de rotação

Tinha uma borboleta na minha escada
Mas o vento a tirou para dançar
Agora ela já não está mais lá

Que faço sem borboleta
Se com o vento ela insiste rodopiar?
Pousa, borboleta, repousa
Me permite a valsa
E vem pra escada que é seu lugar

Se borboleta repousasse
E fizesse da escada um lugar para morar
Eu que rodopiava
E procurava um lugar para me achar

Borboleta se foi...

(Borboleta precisava de morada, e é claro que nem toda morada é prisão. Ela poderia ficar na escada se a escada a fizesse feliz... mas acho que não.)

quarta-feira, 3 de junho de 2015

De uma aula com vários pontos de interrogação...

Convém frisar que não é sempre assim. Vez em quando aparece algo ou alguém, resposta ou solução que te faz sair da mesmice. Vez em quando os ventos sopram a favor e deixo-me levar... Não que eu me leve assim, vez em sempre que o vento sopra. Mas, de vez em quando algo acontece e me permito aceitar, permito que adentre o meu coração e ele se deixe habitar. Vez em quando é de vez em sempre, sempre que de vez em quando algo bom resolve acontecer de vez em nunca. 

terça-feira, 2 de junho de 2015

Silêncio que grita é ponto!

Falo ou não falo, digo ou não digo, calo ou não me calo... ? Calei. 
Abri a porta, fechei a porta, saí, entrei, voltei. 
Falo ou não falo, digo ou não digo, calo ou não me calo... ? Não sei.
Falou, falou comigo.
Respondo ou não respondo, não respondo e não respondo... digo: Olá.
Olá, recebi de volta. E agora?
Falo ou não falo, digo ou não digo, calo ou não me calo... Tudo bem?!
Respondi, respondi, respondi: Não sei... digo (que desastre!, pensei), tudo.
Que desastre, que desastre, que desastre! - Tem certeza?
Deus meu, falo ou não falo, digo ou não digo, calo ou não me calo... ?

(?) 

(?)...

(?)..............

Eu sei, não sei. Calei.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Ponto de chuva

Chove lá fora. Te contei?
Chove algo que não é chuva, que não é coisa nem outra.
Chove lá fora. Já te contei.
Chove muito e muita coisa e coisa e tanta que mesmo se eu te contasse (já contei?) você não entenderia...
Chove lá fora. É sério, chove mesmo! 
Transborda chuva por tudo que é lado (debaixo do guarda chuva, na rua, na casa e no coração) e entope (o bueiro, o carro, o moço e a menina que está apaixonada pelo moço, mas me jure que não conta isso a ninguém não).
Chove lá fora. EU SEI, EU JÁ TE CONTEI!
Mas chove tanto, e coisa e outra e coisa e tanta que chove e chove e chove. 
E você não entenderia. Não...
Chove lá fora.
Dessa vez é sério, juro. 
Chove água, chove chuva, chove o moço na calçada e a menina que apaixonada (não diga que te contei) corre em sua direção.
E transborda.
E alguma coisa entope. Não sei se o moço ou a menina, se a casa ou o coração ou até mesmo o bueiro que está cheio de chuva e coisa e tanta e coisa e outra que chove e chove e chove.

Pronto, entupiu!

domingo, 31 de maio de 2015

Ponto (RE) começo
É agora e há de ser
Decisão
Ponto Exclamação
Em frente

Estou escrevendo algo que já devia ter tido o seu inicio há um pouco mais de tempo, mas não o fiz. E, se alguém aí estiver lendo isso, digo que será tedioso de princípio, mas que de algo deve servir.
Meu nome é Jhennifer Laruska e tenho dezessete anos. Sou Católica Apostólica Romana, estudante de edificações e tenho seis irmãos. Eu gosto de ler. E gosto do cheiro que os livros exalam. Gosto de pontos também.  Gosto de muita coisa, só não de falar de mim: eu não sei... e, quando tento, confundo. Por isso eu não falo. Podem escutar o meu silêncio e o mundo que existe entre mim e as palavras. Abre aspas, frase bonita, fecha aspas, pontuo, exclamo, interrogo, ponto e passo a virgula, risco uma estrofe ou passo o corretivo, vem os parênteses, os três pontos seguidos, o CAPS LOCK LIGADO, e as exclamações excessivas. E pontos também. Ponto. Não que eu me resuma a isso, não que nenhum ser humano se resuma a isso. O caso é que a história continua... aperte o play, vire a página, volte se não entender. ONDE ESTÁ O DICIONÁRIO?

Ponto continuação.