Não se enganem,
leitores. A história a ser contada não é sobre Raquel, não tem como personagem
principal a Madalena, não se trata de nenhum desenrolar de fatos que envolvam
essas duas, nenhum ponto a mais nem a menos. Não agora. Nenhuma especificidade,
a não ser as próprias observações da narradora que vos fala e que é observadora,
ponto de afirmação (isso explica o breve relato anterior).
Insisto, somente, que
não desprezem as duas mulheres. Raquel e Madalena estavam em algum lugar no
mesmo momento em que histórias de tantas outras vidas estavam sendo escritas. Não
as esqueci. A história é a mesma, o foco que é outro ou a vida que é de vários.
O que se segue é um complexo espalhar de exclamações seguidas de várias
interrogativas, e, observações feitas a partir do lado de cá da história já não
podem ser escondidas. A narradora que vos fala é observadora, repito, observa e
observa, e pensa, e sente, e vê, mas só enxerga com o coração. Entendam vocês,
caros leitores: olhar nenhum, se não o do coração, conseguirá entender esse
desenrolar de fatos. Nem esses, nem a própria vida. O segredo está na balança!
Fato número 1 – é tudo um ponto
de confusão.
Que o nascer é coisa
bonita, todo mundo sabe. Um par de mãozinhas perdidas pelo ar, perninhas que insistem
em balançar e os gritos, temíveis pelos pais, do choro da criança durante toda
a madrugada e o restante do dia, e do outro dia, depois outro, e mais outro...
Até que o ciclo começa a andar.
Que o nascer é coisa
bonita, até aí todo mundo sabe e se não sabe, deveria saber. Mas, o que ninguém
sabe mesmo, é como serão as coisas quando o ciclo, o tal ciclo, sai do zero e
passa-se a viver. E que viver é coisa bonita...
Viu, vocês já sabem.
Fulana nasceu em uma
tarde. Ou era noite, ou uma manhã... ???? (eu não sei, porque minha memória não
é muito boa). O importante é que ela nasceu e era linda de se ver! Não era uma
tarde/noite/manhã chuvosa, mas chovia, chovia feito a pingueira na casa do Seu
Antonio que morava pra lá da cidade de onde Fulana respirou pela primeira vez e
que não tem nada a ver com esse relato. O certo é que chovia, mas era no
coração de Cicrana e Beltrano. Até hoje fico pensando que, se fosse chuva de
água mesmo, tinha dado para encher vários baldes e abastecido a casa de Dona Emília que estava lá no Rio de Janeiro e passava por um perrengue danado... O
caso, é que não era chuva de água, que Dona Emília nem sabia da existência de
Fulana e que Cicrana e Beltrano estavam eram transbordando de amores.
Entendo que os dois,
Cicrana e Beltrano, tinham tantos outros filhos para cuidar e que aquele podia
ser mais um (mais uma criança com cara de joelho) que daria mais e mais
despesas. Talvez, Cicrana e Beltrano estivessem em crise, e a paixão que
inventei no parágrafo anterior quando os dois se depararam com as mãozinhas
perdidas pelo ar e o primeiro grito de alivio de Fulana, tenha sido só mais uma
ideia bonita. Não largo mão de nenhuma ideia bonita, nenhuma! Por mais impossível
que seja, ideias bonitas costumam ser conservadas pelo amor e vivenciadas na
sua imensa grandeza.
E, por isso, são só ideias.
[...]
Nenhum comentário:
Postar um comentário