- Veja só, minha
senhora! Continuo arrepiada! Não há mal que ainda nessa vida não seja
condenado, não há. Justiça há de ser feita, minha senhora. Veja, veja! - e
apontava para os braços e reproduzia caretas e enchia-se de indignação - Ainda
estou arrepiada!
A ouvinte parecia se compadecer com os desamores da falante. A elas, daremos os nomes de Raquel e Madalena. Não
se faz necessário nenhum outro detalhe, senão o próprio nome e o entendimento
de que: Madalena carregava suas cruzes enquanto Raquel só observava e, vez ou
outra, exclamava:
- Não duvido mais de
nada, minha senhora! De nada! Veja só, estou me tremendo até agora.
Madalena era humana,
coisa que parece óbvia, mas nem tanto. De tudo um pouco fazia, para agradar,
senão, de tudo um pouco a todos um pouco. Madalena chorava rios de lágrimas,
coisa que parece óbvia, mas nem tanto. Já tinha sido feita de sangue, de
feridas impossíveis, incuráveis, podres no ódio e na dor. E, apesar dos
inúmeros pesares... Madalena era, senão, o amor em pessoa. O amor em sua forma
mais ridícula, desacreditado, é claro.
Raquel era humana, mais
espécie que humanização. Era uma boa pessoa, não se pode negar, não negaria.
Todavia, Raquel possuía um quê de não sei o quê que insistia em
permanecer na superfície das coisas. Sempre à margem de um clichê, de um
conceito banal, de uma piada sem graça, de uma curiosidade medíocre e merecida
de desprezo acompanhada de nada mais que uma inveja aguda, um elevado grau de
interesse pela vida dos outros, mas que não passava disso. Raquel era humana. Pobre de espírito, é verdade,
mas humana.
[...]
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