segunda-feira, 4 de junho de 2018

Ponto de quê?

Há um barulho que nunca acaba
Num silencio que não tem fim
Há uma voz que nunca fala e
Angustiante reside em mim

Há um alguém que parece ser
O que outro alguém já não foi
Há um dia que insiste em nascer.
E só.

Há um tempo que não se conhece
Num quando que não se sabe
Há um espelho que envelhece
Num rosto que não me cabe

Há um pensamento que não me pertence
Num dia que está nublado

Há algo
Que me arrasta
E um outro algo
Que me traz de volta.

sábado, 9 de setembro de 2017

Para voltar e ser

Para voltar a ser o que é
Para voltar a ser
Ou ser o que já não é
Ou ser o que dizem ser
Para voltar a ser quem é
Quem era preciso deixar de ser?
Para voltar a ser o que é
Para voltar a ser
Para voltar a ser quem é
Quem é que tenho que ser?
O ser que já não é
O ser que dizem ser
O ser que sou
Mas quem é?
Quem é que tenho que ser
Para voltar... (?)

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Relações insuficientes: o jovem no mundo que não permite a estagnação


A insuficiência das relações corrobora com a constante social que nos é apresentada desde o berço. O mundo não permite a estagnação. Não basta terminar o ensino médio, não basta a graduação, mestrado, doutorado, pós... Falar somente o inglês já não significa muita coisa, o currículo precisa ser extremamente bom, o emprego precisa ser “decente”, a família deve ser “modelo” e a inteligência absurda. A vida nos é apresentada com manual de instruções e não nos basta seguir o roteiro, é preciso surpreender.
As relações são frustrantes e altamente críticas. O sexo do bebê torna-se motivo de desgosto para alguns e sua decepção não é aliviada após o nascimento – a criança, se não acompanhada devidamente, nasce e cresce com o pensamento de insuficiência por não considerar-se boa o bastante para sua própria família. Além da carga emocional, a estética passou a ser sinônimo de felicidade fajuta: dietas desequilibradas, cirurgias arriscadas, saúde comprometida; tudo para seguir os padrões, agradar os outros. Mas quem agrada a nós mesmos?
A criticidade não permite não o erro. O suicídio entre jovens brasileiros tem crescido nos últimos tempos, o índice é preocupante e aponta para o seguinte fato: o jovem, ainda que na sua fase de amadurecimento, é símbolo de ascendência social e futuro. Para um mundo altamente globalizado e extremamente capitalista, não é permitido a estagnação. Os jovens precisam ser bons – eis o risco.
Toda essa pressão psicológica, é descarregada de forma brutal e eles se veem acuados. Precisam ter boas notas, falar no mínimo três línguas, ter um emprego maravilhoso e um currículo gigante. Não o bastante, sofrem com a imposição das redes sociais, o espetáculo de padrões, transtornos quanto à sua sexualidade e gênero e a não aceitação social.
Assim, torna-se evidente o problema e a sua urgência para com uma solução. É necessário que os pais, a escola e a sociedade atente-se ao fato e busque melhorias em suas ações. O diálogo, a compreensão, o apoio, são soluções bases, mas fundamentais, que possibilitam ao jovem um amadurecimento na tomada de suas decisões, além de preparação para as dificuldades que podem ser enfrentadas. No mundo onde tudo é urgente, rápido e crítico; é preciso de calma para interagir e paciência para compreender. O jovem não deve e nem precisaria buscar a fuga no suicídio se lhe fosse permitido respirar e começar novamente do zero aquilo que antes não deu certo, sem críticas ou pressões em demasia.

segunda-feira, 28 de março de 2016

Canta, mas ninguém escuta

O som que canta lá fora não é o mesmo que canta aqui.
De que maneira a intensidade com que se sente – e sente profundamente
Pode tornar-se menor?
O rio que corre na veia, de sangue é
E é e se retorce
E comprime
E deságua
E inunda, alagando o mesmo rio que não deixa de existir
A chuva que cai não é água
E o som que canta lá fora não é o mesmo que canta aqui
Menor, menorzinho, menor, menorzinho
De que maneira a intensidade com que se sente – e sente profundamente
Pode tornar-se menor?
Menor, menorzinho
O rio que corre na veia, sangue, incendeia
Evapora
A chuva que cai não é água
O vento que dança, de ar não é feito
O frio balança o corpo
E o rio, que corre na veia, congela
Frio
O som que canta lá fora não é o mesmo que canta aqui
O som que canta lá fora não é o mesmo
O som que canta lá fora não é o mesmo
E já não canta aqui


terça-feira, 15 de março de 2016

Cubo mágico, cubículo

Aqui, onde a noite é insônia e o dia ameaça chegar, o vento sopra, o cobertor aquece, a luz apaga. O cubículo torna-se menor. Aqui, onde queima a esperança e o leve ardor da chama que insiste não finalizar, eterna. Desse lado, o de cá, que os dias são dias e dias e dias e dias. Sem fim. Desse lado, o de lá, que as noites são noites, por fim. Aqui, onde tudo acontece. Absorve, dissolve e, cautelosamente, se esvai. E vem, e volta, afinal. Aqui, onde mora um morador. Feito de algo que não sabe o que, que sabe e sabe e sabe. Aqui, onde tudo acontece. E conhece, desconhece, desconhece. Que é o que está. Aqui... dentro, fora. Bordando o acolá. Lá... do lado de onde tudo é menor. Cubículo. Cheio, cheio, cheio
Vazio.

Meu nome é mau humor

São onze azulejos na horizontal e seis na vertical. Meu dia é sonho e minha noite insônia. Meu mundo parece vago, meu desespero é horário, meu crime é falta de tempo. Minha parede é rabiscada, meu retrato é esquisito, meu tempo é perigo, minha vida é alma. Minha dança é agitada, meu coração é pulsante, meu inglês is not good, meu nome é mau humor. O guarda roupa tem seis portas. Não tem sentido e nem espaço. Meu teto é claro, meu chão é piso. Meu céu é divino, meu papo não é reto. Estou ficando zen,  só cultivando a paz interior (mas não me atormente não, faça o favor).  Meu dia é curto, minha noite é longa, meu coração está em seu devido lugar e minha paciência é com limites. São onze azulejos na horizontal, onze!!!! Eu contei e não achei sentido.

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Morrer, todo mundo morre, nascer de novo é o que importa (!)

Nasci morrendo. 
E vivo nessa de nascer e morrer todos os dias. 
Meu tempo é fogo
E a morte é vento
Ou água
Ou qualquer coisa que independente da resistência do fogo meu, o dissolve.
Todos os dias a mesma história: 
nasço e morro.
Morro e, por pouco, não morro mesmo
E depois de morrer, tem isso:
Isso de viver.
Eu nunca entendi bem a vida. Meu desejo de compreendê-la é companhia ao outro desejo meu de não desejar nada, de não saber nada e deixá-la seguir. A verdade é que temos medo da morte. E não me refiro à existência. 
Nasci morrendo, perdendo segundos antes mesmo de conseguir respirar pela primeira vez.
Nasci. E nasço novamente todos os dias. 
Meu medo vem de dentro e só de dentro eu consigo superá-lo. 
Meu inimigo sou eu mesmo.
Minha morte é não viver. 
Minha eternidade é composta de agoras.