segunda-feira, 28 de março de 2016

Canta, mas ninguém escuta

O som que canta lá fora não é o mesmo que canta aqui.
De que maneira a intensidade com que se sente – e sente profundamente
Pode tornar-se menor?
O rio que corre na veia, de sangue é
E é e se retorce
E comprime
E deságua
E inunda, alagando o mesmo rio que não deixa de existir
A chuva que cai não é água
E o som que canta lá fora não é o mesmo que canta aqui
Menor, menorzinho, menor, menorzinho
De que maneira a intensidade com que se sente – e sente profundamente
Pode tornar-se menor?
Menor, menorzinho
O rio que corre na veia, sangue, incendeia
Evapora
A chuva que cai não é água
O vento que dança, de ar não é feito
O frio balança o corpo
E o rio, que corre na veia, congela
Frio
O som que canta lá fora não é o mesmo que canta aqui
O som que canta lá fora não é o mesmo
O som que canta lá fora não é o mesmo
E já não canta aqui


terça-feira, 15 de março de 2016

Cubo mágico, cubículo

Aqui, onde a noite é insônia e o dia ameaça chegar, o vento sopra, o cobertor aquece, a luz apaga. O cubículo torna-se menor. Aqui, onde queima a esperança e o leve ardor da chama que insiste não finalizar, eterna. Desse lado, o de cá, que os dias são dias e dias e dias e dias. Sem fim. Desse lado, o de lá, que as noites são noites, por fim. Aqui, onde tudo acontece. Absorve, dissolve e, cautelosamente, se esvai. E vem, e volta, afinal. Aqui, onde mora um morador. Feito de algo que não sabe o que, que sabe e sabe e sabe. Aqui, onde tudo acontece. E conhece, desconhece, desconhece. Que é o que está. Aqui... dentro, fora. Bordando o acolá. Lá... do lado de onde tudo é menor. Cubículo. Cheio, cheio, cheio
Vazio.

Meu nome é mau humor

São onze azulejos na horizontal e seis na vertical. Meu dia é sonho e minha noite insônia. Meu mundo parece vago, meu desespero é horário, meu crime é falta de tempo. Minha parede é rabiscada, meu retrato é esquisito, meu tempo é perigo, minha vida é alma. Minha dança é agitada, meu coração é pulsante, meu inglês is not good, meu nome é mau humor. O guarda roupa tem seis portas. Não tem sentido e nem espaço. Meu teto é claro, meu chão é piso. Meu céu é divino, meu papo não é reto. Estou ficando zen,  só cultivando a paz interior (mas não me atormente não, faça o favor).  Meu dia é curto, minha noite é longa, meu coração está em seu devido lugar e minha paciência é com limites. São onze azulejos na horizontal, onze!!!! Eu contei e não achei sentido.