segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Humana Amélia

Não é do amor que Amélia tem medo.
Sempre que esteve, estava.
Parada no nada.
Amélia sabia e sabia e sabia e odiava.
Odiava as rotulações.
Ouvia as maldades.
Sentia os olhares queimando sobre si.

Ahhhhh, que horrores sãos esses que pensam da Amélia?

Não era o amor que a afastava.
Não era o amor que faltava.
Não era nem mesmo o amor.

Era uma pobre coitada a doce Amélia...

Não é de amar que Amélia chora.
Não é o medo que a entristece.
Sempre que esteve, estava.
Parada no nada.
Parada no mundo surdo, mas não mudo.

Pobre Amélia, pobre Amélia!

Não é do amor que Amélia tem medo
É das línguas que ao invés de se entrelaçarem soltam veneno.
É do braços que rejeitam os abraços.
É dos sorrisos, impuros.

E por falar em impuros...
Que fizeram do amor, doce Amélia?

É disso que tem medo?
Disso que fala.
Disso que acusa.
Disso que mata.
Disso que não ama.
(AMAR? QUE É AMAR?)

Amélia, Amélia, Amélia...
Sempre um passo a frente do mundo
O mesmo mundo que anda para trás.

Ahhhhhhh, que horrores são esses?

Não é de amar que Amélia tem medo.
Não é do amor. Não é não.
É de gente.
Gente como a gente.

Pobre Amélia...  Doce demais para um universo atroz.


sábado, 12 de dezembro de 2015

Aprendiz


Estou aprendendo a escrever. As letras saem borradas nas linhas invisíveis e tortas pela ausência da régua costumeira. A minha tese sólida é só superfície da desenvoltura dos parágrafos que se intercalam, que falam, que gritam e brigam, se apedrejam e morrem de ir, felizes pelo riso. Ah! Que difícil é a escrita... Achar compreender os textos que saem das bocas, o enlace das mãos que se tocam, a música que transborda, o silêncio preenchido e a alma que se envaidece. Que difícil escrever e descrever a vida ao pé e à letra. Acrescentar as frases, moldar-se aos contextos, passar os corretivos, as vírgulas e os pontos no lugar que cremos ser o correto e não são. Que beleza invejável essas perguntas que não são respondidas, esses meios verborrágicos, esses acentos que dizem tanto e que não sei explicar. Não me expliquem. Que belo o orar sem saber pelo que, agradecer o nada e pedir o algo que falta na mais pura ignorância do não saber que já o possui. Ouve-me o silêncio e absorvo-me de somatórias. Que bonito o vácuo cheio dos momentos mudos, dos vídeos surdos, da fotos espontâneas. Que difícil é a escrita. As horas que passam depressa, o dia que engatinha, o momento que se eterniza, a luz que ilumina, o sol que nasce e inunda-nos de mar. Sim, porque o mar é doce. Dessas doçuras gostosas que nos causam enjoo logo depressa, da vida e da sede que é de não precisar entender (comer e beber) para saborear o ar, o vento que pacifica e de paz é carregado. Basta pouco da superfície para que a entrega, mesmo relativa, nos afunde na melodia de um momento que, perdoe, não sei explicar, ainda estou a aprender e, quando achar-me sabedora, terei que ser formatada... em algo devo ter falhado.