segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Há.

Assim que o silêncio chegou no meio, o meio, pouco silenciou. Quando o silêncio se fazia tormento e atormentava, o meio gritava em um silêncio tão angustiante que silêncio algum podia deixar de ouvir... mas deixava. E atormentava não sabia bem o porquê. Ou sabia. Ou entendia. Entendia. Não compreendia. Queria. Mas não podia... Deveria ser mais simples, não? Tão mais simples se fosse menos complicado. O caso é que é o caso. Esse caso.
Assim que a caneta escorrega devagar pelo papel e retorna em um rabisco profundo: Não era bem isso que queria ter escrito. Não era bem isso que queria ter dito. Ouvi, mas não era bem isso que queria ter ouvido. Não era bem isso o que há, porque existe e está preciso de entendimento. Mas alguém aí entende?
Não, não era bem isso...
O alarido que invade, de maneira tão silenciosa, está coberto de desejo. Desejo de que, Deus? De um sossego desavisado que invada, aturdido, tão misterioso e decidido, as portas do ser. Ser humano. Sossegue. De uma paz infindável, em um silêncio tão gritante, mas tão gostoso de ouvir. 
Hei de ouvir?
Ouvir quando?
Agora?
Como?
Hei de ser? Que há? Que há?
Que há???????? 

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

E se foi...

Um caminhão azul está parado em frente ao jardim.
A menina que passa, passa correndo pela calçada.
Um carro percorre a avenida.
E o cachorro late.

Nada tem a ver

O caminhão continua onde está.
A menina que passava, passou.
O carro não voltou.
O cachorro ainda late.

O caminhão continua onde está
Cor azul.

Nada tem a ver

Tudo passa
Passado
Rápido
Depressa
E demais

Prazer por ir embora
Nada tem a ver
Tchau

Tudo que vai
Adeus
Volte, se puder
Se feliz fizer, claro

Insistência infeliz
Permanecer é sempre por um triz
Se fica, não agradeço
Mas reparo

Tanta coisa se esvai
E vai...

[Um senhor que passa
Passou rente ao caminhão
Entrou
Entrou e passou
Passou, mas não parou
Não parou e levou
Adeus, caminhão]

Nada tem a ver.

Do tempo em que se está longe... mas retorna

Do muito que tenho para contar sobre o tempo, a sua imprecisão para com meus assuntos me incomoda um pouco. Por algum acaso, no exato momento de ser exato, seu tempo não se faz. Dia desses, foi com a sua urgência de sempre que procurou dar-me explicações pouco convincentes para seus contratempos. Que não o culpasse por suas extravagâncias, que passava ligeiro, mas que me dava todo o tempo que seu tempo tem, eu é que não reparava. Que tentasse entender, cada coisa tem seu tempo... De nada vale os prazos que lhe dou para resolver meus desvarios, se eu não contribuía em nada para que eles fossem solucionados. Só faltou gritar comigo, que deixava tudo em cima dele, que sobrava tudo para ele resolver, que isso ou aquilo. E que já estou é bastante grandinha para ver o tempo passar. Mandou-me arrumar o que fazer, que todas essas minhas reclamações o contrariava, o impedia. E mais!!!!! deixava o recado: tome cuidado para não ser você mesma seu próprio estorvo.
Depois disso, eu sei que liguei o modo "indignada" e sorri amarelo. Calei! 
O tempo tinha lá suas razões e estava certo, dou-lhe o braço a torcer. A vista da janela podia ser até interessante, mas não era correto ser somente telespectadora de suas paisagens. Por um momento esqueci-me da história que construí e que, além de narrar, era personagem. Encontrei uns contratempos que, diferentes do tempo, não tinham urgência nenhuma em passar. Tomei logo uma xícara de consciência. Fiz proveito do tempo dado e desliguei-me de minhas exatidões para com o tempo, só não podia perder as rédeas. E assim, prossegui, aproveitadora dos bons ventos, rodopiando rumo ao tempo certo e precioso... de suas imprecisões já não quis saber: tudo ao seu tempo (eu só precisava dar uns empurrõezinhos).   

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Que tanta coisa e tanta coisa seria...

Ou que tudo fosse enfim resolvido
Ou menos complicado
Que a ânsia por dias melhores
Não adormecesse na primeira dificuldade
Nem na milésima que fosse
Que o sonho que sonhara
Não lhe atormentasse tanto:
Cada coisa ao seu tempo, é preciso saber
Que o tempo que traz as coisas
Não demorasse tanto
Nem que o desejo de recebê-las
Lhe permitisse a inércia
Que o querer fosse sempre o mais forte
A razão sempre consoladora
E o coração não se deixasse amargurar
Ou que a vida fosse um pouco mais doce
Ou que tivesse o seu azedo, tudo bem
Que o mundo não inundasse suas veias de atrocidades
Que a paz reinasse em cada canto de seu olhar
Que o fruto que brota da terra fosse mais saudável
Que a flor que desabrocha, ainda que na guerra
Fosse reconhecida
Ou as pessoas fossem mais gentis
Ou mais fáceis de lidar
Que o quebra-cabeça não fosse tão difícil
Os sentimentos tão enigmáticos
Que tanta coisa
Mas que ainda fosse coisa a se falar
Que fosse tanto amor
E tanto o amor seria
Em todas as coisas
Ou desconheceria toda a razão
Ou não amaria...
E pior coisa não existe.