segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

O referido é verdade e dou fé

Gritaria se me fosse possível.
E é. Fiquem vocês sabendo.
Não grito, porque não quero. 
Ninguém pôs-me uma mordaça.
Decerto, colocaram-me à roda das extravagâncias.
Ativaram os insultos.
Gastaram-me elogios.
Antes os tivesse poupado...
Se não do desprazer de nada adiantar, mas da paciência
(por vezes fugitiva)
e para a qual obtive êxito.
Ilustríssimos roedores:
Não queiram por meio destas linhas, roubar o queijo que não lhes pertence. Os senhores bem sabem da dificuldade que é de agradar os paladares refinados. Isto não quer dizer que seja grande coisa, mas pouca não há de ser. Fiquemos esclarecidos que o paladar pouco importa e serve, senão, para dar vida à gostos e mal gostos que podem poupar-me os ouvidos, as rugas, as linhas de expressão e os cabelos brancos, bem como as rabugices que saem do buraco negro que é a boca quanto à vida e o que fez-se dela. Contariam os mais velhos, a história nostálgica. Os observadores pintariam o quadro:
Eis que no centro está o réu.
E aos arredores, os extravagantes.
- Por que não?
- Creio que não seja. E se não é, Excelência, me recuso a ser.
- Declaro o réu digno de sua vontade. Sendo esta, sua própria liberdade e o desprezo ao quadrado que o cercaria se, por ventura, a rejeitasse. O Sol não nasce quadrado, assim como o amor não pode tornar-se um cárcere. 
Está dada a sentença.